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Recordar um meu dia-dos-namorados

por Gajo, em 14.02.17

 

dias dos.jpg

 

Nunca fui de ter muitas namoradas. Muito trabalhoso e requer um príncipe encantado que nunca fui, aliás, de príncipe, só tinha o cavalo….que era de pau, oferecido pela minha querida  avô em pequeno. Que, constate-se, é curto para entusiasmar qualquer potencial namorada.

 

No entanto, como qualquer rapaz, e como a coisa já estava bem encaminhada, houve um determinado dia-dos-namorados, que apostei em convidar uma moçoila para jantar. Ofereci-lhe uns bombons, umas flores, e  uma lingerie. No fundo, tirando as flores, escolhi presentes que também usufruísse. Era um investimento. Não queria ser como um "lesado do bes": investir para outro gozar o rendimento. Eu tinha uma política: o "dia dos namorados" era como o Natal, mas não acabava a noite a ouvir o meu tio emigrante do Luxemburgo a cantar em tronco nu. Da parte dela não poupou a gastos e ofereceu-me um lindo sorriso, e disse que eu era muito simpático pelas prendas.

 

A questão da lingerie, e como isto foi há uns anos largos, muitos largos, é que tive receio que a minha convidada fosse daquelas mulheres que gostavam de andar "confortáveis", e em caso de ser bafejado pela sorte, estava sujeito a ter à minha frente alguém preparado para ir tratar dos filhos. Por outro lado, não sou hipócrita: se ia jantar com ela no dia-dos-namorados, não fazia sentido oferecer um manual com as 100 espécies de gatos. Prendas para encher já lá estavam as flores e os bombons. Bombons diga-se que eram uma porcaria. Parecia chocolate de culinária. Comprei aquilo por causa da caixa. Tinha um coração bem piroso, mas estava a dar tudo, e tinha muita falta de experiência. Se fosse hoje, qualquer mulher, no dia a seguir, bloqueava-me o número de telemóvel. E com razão, diga-se.

 

Quanto às flores só as ofereci desta vez, pois ela esqueceu-se de levar uma  jarra na mala, e fui eu que tive de acartar com o ramo. A solução para me livrar das flores foi ter-me feito de esquecido das flores no restaurante, e ainda reverti aquilo a meu favor: dei o ar de ter ficado triste,  e fi-la sentir mal com isso. Já sei, estão a chamar-me nomes, mas o que não sabem é que cheguei ter  a mão que segurava as flores  roxa do frio. Quando me sentei no restaurante parecia que estava de luva preta.  

 

Referir também, que quando abriu a caixa da lingerie, sorriu, e com ar meio gozão, disse: "não sei o que queres dizer com isto, queres-me explicar"? Eu: "Claro, a minha mãe hoje fez lulas recheadas, e por causa desse presente vim jantar contigo". Ainda hoje suspeito que ela não gostou da resposta. Se ela soubesse o que gosto de lulas, tinha-se derretido toda com o meu gesto. Lá estão vocês com coisas. "Só foste sair com ela para coiso". Claro, já andávamos em "negociações" havia tempo, que eu gostava dela, já sabia. A relações não são como os vendedores porta-a-porta das operadoras: "batem batem mas nunca entram".

 

É preciso frisar que ia muito melhor vestido que ela, que de certeza se vestiu às escuras, perto do roupeiro da tia Idalina. Olhava e só via lã. Só à conta dela, naquela noite, lixaram um par de ovelhas. E levava umas sabrinas. Ninguém vai jantar de sabrinas. Ela fez aquilo de propósito. Percebia-se o nó dos dedos dos pés. Ou seriam calos? Ou se calhar encolhia os dedos. Ainda hoje não sei. Estranho, muito estranho. Sabem aquelas sabrinas que têm um laço? Essas!  Aquilo em caso de ferida ainda dava como fio para dar os pontos. Mas gostava dela, apesar da apresentação fazer da Paula Bobone uma mulher com bom gosto.

 

Depois, como é óbvio, fomos ao cinema ver um filme romântico. Impressionou-me ver a aflição da quantidade de homens sentados na sala de cinema, desesperados para que o filme passasse rápido para irem  experimentar a "lingerie" deles. Havia uma cumplicidade no  olhar entre os homens, e ainda faltava pelo menos hora e meia de sofrimento a ver aquilo, quando já sabíamos que ela ficava com ele, independentemente de quem tivesse empalitado quem. Só na ficção é que as mulheres choram quando um homem trai uma mulher, e depois volta para ela. Experimentem..., a ver o resultado. Mais, aqueles filmes acabam com a moral de um gajo. Nós nunca iremos ser assim: perfeitos, amorosos, românticos, de olhos azuis, loiros, e com um Ferrari para ir buscá-las ao spa. Depois do ego arrasado, sair do cinema, apanhar um táxi com 30 anos, e um taxista com saudades do Salazar, a cuspir pela janela, as chances de um final feliz na nossa vida real, diminuem consideravelmente. Para quebrar o gelo, ainda lhe falei no cavalo de pau que a minha avó me ofereceu e que ela podia dar uma volta... mas olhou para mim com certo desdém.

 

Já sei, querem saber se fui feliz…

 

Saímos do cinema, aquilo ia encaminhado, disse umas piadas, e atirei, confiante: "então onde vamos"? E ouvi: "tu não sei, eu vou para casa, amanhã tenho de me levantar cedo". Imaginem a minha azia. Fui despachado por uma gaja que na Moda Lisboa era barrada em Cantanhede, para não se aproximar muito da capital. Que me levou a ver um filme que ainda hoje não me esqueci, não por bons motivos, e pior, calçada com uma cena nos pés que nem para evitar as picadas dos peixe-aranha servia. Ainda olhei para a lingerie, mas, curiosamente, ao contrário das flores, nunca saiu das suas delicadas mãos.

 

Já em desespero mas sempre com fé, fui deixá-la a casa de táxi, a ver se… Saí do táxi, e…ela despediu-se. O táxi foi-se embora e fiquei ao frio à espera de outro, que demorou uma eternidade.

 

E assim terminou uma linda noite romântica.

 

As conversas continuaram, e dias depois convidou-me para jantar, mas azar dos azares, era dia de lulas.

 

Um dia perfeito não acham?

Ps- se por um acaso acharam que isto é tão bom como lulas, partilhem. Se acharam que se parece com iscas, deixem estar....

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publicado às 03:14


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