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Já quase tudo foi dito sobre o jantar de encerramento da Web Summit no Panteão Nacional, mas mesmo assim o tema é tão bom que não consigo ficar calado. Só de saber que posso tirar uma selfie a beber um shot de vodka ao lado de uma urna, a minha vida ganhou outro sentido, que preciso desabafar. Depois, se pensarem bem, este evento da Web Summit tem a ver com empreendedores e se eles pegam nesta ideia, daqui a 70 anos, os vossos filhos vão comprar um frango assado e descobrem que o Cristiano Ronaldo foi enterrado numa churrasqueira.

 

Mas quem sabe confundiram as 12 "Estrelas" que estão no Panteão, (Almeida Garrett, Amália Rodrigues, Aquilino Ribeiro, Eusébio da Silva Ferreira, Guerra Junqueiro, Humberto Delgado, Manuel de Arriaga, Óscar Carmona, Sidónio Pais, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teófilo Braga) com 12 Estrelas Michelin? Pode ter sido, sim.

 

A conversa está boa, mas tenho de ser rápido pois fui convidado para ir a um brunch no crematório de Sernache agora às onze horas. Espero que compreendam, pois a aberta na grelha é só até ao meio-dia. A especialidade são corações, segundo me disseram.

 

Dito isto, o Estado/governo, na pessoa do Primeiro-Ministro António Costa, já se veio indignar, com o Estado/governo, liderado pelo senhor primeiro-ministro António Costa, por ter dado autorização para o referido jantar. Por outro lado, Barreto Xavier, do anterior governo , e responsável pelo Panteão Nacional integrar o ramo da restauração e estar no Zomato, indignou-se por se fazerem jantares no Panteão. Com isto, confirma-se que se continua a fazer boa política em Portugal.

 

A propósito do Zomato, as críticas dos clientes não são muito boas. Aconselham peixe, dizem que vem pouca carne, muita ossada, e por norma chega fria. O bacalhau-com-todos (convém saber o que são todos) também não tem boa classificação, ao invés do Pão de Deus, que é especialidade da casa. É também referido o ambiente com pouca vida. Talvez aconteça pela banda residente ser os Mão Morta, que cantam "Morte ao Sol" dos GNR . Na secção sugestões, há bastantes pedidos para a criação do serviço "Panteão Drive".

 

Por outro lado também não deixa de ser interessante que o Panteão Nacional de dia seja um cemitério gourmet, e à noite vire cabaret. Se formos lá de dia, os funcionários pedem silêncio e recato, mas no caso de irmos a uma jantarada, podem gritar, dançar, e ver gajas semi-nuas. Talvez seja devido aos inquilinos terem o sono pesado.

 

A talhe de foice, e eu estou cá para pensar nestas coisas, se compararem os preços das casas em Lisboa com o do aluguer do Panteão, conclui-se que é mais barato alugar uma urna para dormir na capital, que um T0 sem casa-de-banho na Penha-de-França. Ainda há a vantagem da vizinhança não criar problemas nas reuniões de condomínio.

 

Já que é para rentabilizar o Panteão, sugeria "caças ao tesouro". Quem trouxesse a pála do Camões, ou o Xaile da Amália não pagava a conta. Ou jantares temáticos, de futebol, literatura, fado, era só escolher. Ou um programa de TV: "Querido Mudei o Panteão". Mudavam para caixões em Carvalho Francês, porque o mármore é muito frio no Inverno e dá cabo das articulações. Pensei também no "Pesadelo na Cozinha", mas era capaz de ser má ideia. Imaginem o Ljubomir quando visse o estado da carne?

 

Já agora, para os que pensam que podem ir jantar ao Panteão quando lhes apetecer, desenganem-se, não é para todas as bolsas. Para a classe média sugiro, para jantar, a morgue do Santa-Maria; está com preços acessíveis, mas em regime buffet. Para os desempregados, e com rendimentos mais parcos, há vários cemitérios, a oferecer, por vinte euros, duas campas relvadas para piqueniques, com serviço de bar incluído. Ninguém fica de fora.

 

Estranho é não ver até ao momento nenhuma manifestação da igreja, ou provavelmente já se adaptou e estou aqui a criticar. O famoso "descanse em paz", já terá sido substituído pelo, "descanse em paz, menos quando há jantares marcados".

 

Sendo sincero e pondo-me no lugar dos familiares que têm alguém no Panteão, admito que não me entusiasmava ver alguém próximo, depois de morto, servir de caixa registadora . Depois, a memória deve ser respeitada, e banalizá-la é o pior que o ser humano deve começar a fazer. Mas isto digo eu que sou conservador.

 

Para terminar, a sorte no meio disto tudo foi os sepultados no Panteão não terem morrido devido à legionella senão entrava lá a polícia para ir buscar os corpos e estragava o jantar. E isso sim, seria uma maçada.

 

PS - : Primeiro. Quem é que se lembra de alugar um cemitério seja para o que for? Segundo. Quem é que se lembra de ir jantar a um cemitério? Terceiro. Quem é que gosta de ir jantar a um cemitério? Quarto. Quem é que acha uma boa ideia rentabilizar um cemitério?

publicado às 02:18


13 comentários

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De Magda L Pais a 13.11.2017 às 09:32

Do melhor que li sobre este tema! ahahahaahahahah tomei a liberdade de partilhar na minha página do facebook
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De Anónimo a 13.11.2017 às 10:37

Gajo, ando aqui aos tombos, isto é do melhor.
Mas não dês a conhecer esta tua capacidade ao Centeno.
É que o gajo, ele, o Centeno, ainda acaba por estabelecer uma excepção ao IVA para a restauração nos panteões, cemitérios e quejandos do país, retornando-o aos 23%. Ora eu, batendo a bota, não quero que por minha causa a populaça pague mais IVA.
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De Anónimo a 13.11.2017 às 11:48

Fabuloso.
Esta gente está toda doida.
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De Anónimo a 13.11.2017 às 12:24

As dores que me fez este evento!
Quero lá saber se foi no panteão ou na sacristia da igreja mor (onde se fazem coisas inconfessáveis e bem piores).
Há culturas e religiões cujas práticas fúnebres incluem jantares quase banquetes, e bebida até cair de cu, em honra do morto.
Preocupem-se mas é com os vivos, que os mortos não querem saber disso para nada.
Mais desonesto e grave do que o que aconteceu no panteão, é usarem os mortos como arma de arremesso político.
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De Aninhas. a 13.11.2017 às 12:42

Bem, nada a acrescentar! Está td dito, e com bastante humor, você é o MÁÁÁWIMO! E sim, temos que começar a ir fazer piqueniques aos cemitérios! Não tinham outro sítio melhor pra fazer o almoço! Meu deus.
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De Aninhas. a 13.11.2017 às 12:48

Resalvo a palavra MÁÁÁXIMO.
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De Fatima Vicente a 13.11.2017 às 13:11

Muito, muito bom!!!!! Adorei!
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De Anónimo a 13.11.2017 às 13:33

Gostei de ler, muito bem observado.
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De Sérgio Ambrósio a 13.11.2017 às 14:40

Texto lindo!
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De Joao a 13.11.2017 às 15:57

Estava a achar demasiado bom Portugal ter um evento como a web summit sem estragar tudo com ideias infelizes e politiquices. Claro que jantar no Panteão não é uma ideia feliz mas na verdade o mais triste da historia é ver como o comum portuga que nunca pôs os pés no panteão, que se está a borrifar para o panteão e que dos que lá estão so conhece a Amalia e o Eusebio, agora se sente EXTREMAMENTE ofendido por lá haver um jantar (ainda que seja uma ideia triste e a não repetir). Nao tarda muito Madonnas, Web Summits e todos os outros que pensavam que isto era um país evoluido vão entender o que é Portugal e pôr-se a milhas, e o mais longe possivel….

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