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Encontrei-a de novo e continua o mesmo.
Todos nos cruzamos com pessoas mais "experientes", que por respeito, acabamos por condescender quando se sentem com propriedade para ver a folga do elástico. Tenho um caso destes, uma senhora na casa dos sessenta e tal anos que está por norma muito bem-disposta e gosta de "brincar", alcançando por momentos o patamar da "senhora gaiteira". É a que diz cheia de confiança: "Ahhhhh se fosse mais nova". "Se fosse mais nova o quê"? Nunca lhe perguntei isto, admito, mas, se fosse mais nova eu também era, dava no mesmo; e se fosse mais nova, e eu da mesma idade, era preciso eu querer alguma coisa! Ela não percebe que o que sugere colide com o que eu vejo, e se fosse mais nova punha-lhe uma ordem de restrição.
É daquelas senhoras que fala para a plateia. "Precisava era de um destes (apontando para mim); o que tenho lá em casa já não dá para o gasto". Sentindo-se forte solta gargalhadas e exibe, sem complexos, a falta de duas cavilhas na lateral esquerda e meio dente ratado à frente. Isto é a visão do inferno, mas confiança não lhe falta. Pior, pelo estado da cara de certeza que se maquilha num balde e serve-se de uma trincha para pintar os olhos. Ah, e usa um perfume daquele que faz arder as meninas-da-vista. Aquilo é veneno, e com o calor pode virar ácido.
Não é alguém que veja todos os dias, nem a via há algum tempo, mas mal me viu deu-me dois beijos repenicados, acompanhados pelo respetivo aperto de cara, para de seguida, a sacramental pergunta: "já arranjaste alguma coisinha"? "Coisinha"? Há sempre a ideia que um desempregado não pode arranjar ou desejar uma "coisa". Depois de aberto o diálogo, nos cinco minutos que estive com ela, disse-me para ter cuidado com a "barriguinha", passando-me a mão ao de leve; que já tinha o cabelo grande a precisar de um "jeitinho"; e para aparar a barba. O conselho da barba deixou-me pensativo, dado que ela tinha um buço robusto e parecia viver bem com isso.
Podem estar a pensar que a senhora estaria ali para as curvas, ou seria um exemplar bem conservado para vir com esta embalagem. Nada disso! Tem um rabo parece uma rotunda de três faixas, com uma estátua lá no meio, e umas costas de tal dimensão que serviriam de tábua para passar cortinados.
Possuidora de um guarda-fato que um dia ficará para fazer peças de teatro de época, não se nega a usar um decote generoso para ostentar a pele franzida na zona da separação das meninas abatidas pela gravidade, e adornadas pelo clássico cordão dourado, vendido ao metro, com o que sobra a desenrascar de coleira para o cão. O decote demasiado exuberante para o menu, que promete lombo e depois oferece alcatra rija com nervo. Trinta e oito cabelos mal-amanhados, puxados para trás a parecer um rabo de um coelho.
Calça daquele modelo de sapatos que fica somente o dedo grande de fora ao centro a espreitar. A unha é uma garra e a pedicure só pode ser feita com uma tesoura de podar. Mas pensem: para o dedo grande, que está na ponta, derivar para o centro, imaginem a singularidade dos pés e a organização errática que aqueles dedos devem ter. Para encontrar os dedos só com GPS.
Isto para o ego de um Gajo seria arrasador, e motivo para voltar ao atum em óleo, se não achasse que ainda estou num estado aceitável, e não viesse de um "modelo" a precisar de dar uns toques nos pontos de ferrugem e com o chassi arreado.
Pronto, a senhora até é simpática, mas sempre que me vê faz este carnaval…aborrecido.
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